terça-feira, 29 de abril de 2014

Personalidade do Mês: Charles Baudelaire



por Tathy Zimmermann

Depois desse período meditativo e de reinícios que a Páscoa deveria ser, ou após todos os chocolates, o mês de abril chegou ao fim e com ele, nossa homenagem à personalidade do mês.
Seu aniversário foi no começo do mês e o escolhi por ser uma grande leitora de seus poemas (mesmo não gostando muito de poesia). O convidado para soprar as velinhas é nada mais nada menos do que o dândi, o flâneur, o poeta boêmio: Baudelaire.
 por Georges Rochegrosse e Eugène Decisy
Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris, no dia 9 de abril de 1821. Sua infância e adolescência foram atormentadas em diversas desavenças familiares que seriam o marco de sua rebeldia contra as convenções sociais e contra a frivolidade literária, sobretudo na área da poesia.
Aos 16 anos, Baudelaire ficou órfão de pai, e o ódio nutrido contra o segundo marido de sua mãe, o general Aupick, fez com que abandonasse os estudos em Lyon para fugir para a Índia. Ao retornar a França, em 1848, o jovem participou ativamente do movimento que ficou conhecido como Primavera dos Povos, em Paris os revoltosos conseguiram depor o rei Luís Filipe e instalar uma república.
Após isso, Baudelaire instalou-se em Paris, frequentando os salões aristocráticos e artísticos, levando uma vida boêmia e gastando suas posses. Sua vida foi tão repleta de gastos e dívidas que ele foi obrigado judicialmente pela sua família a aceitar um tutor para cuidar de seus bens. Acabou envolvendo-se romanticamente com a cortesã Apollonie Sabatier, e com as atrizes Marie Daubrun e Jeanne Duval, uma mulata por quem era apaixonado e para quem dedicou o ciclo de poemas “Vênus Negra”.
Em 1847, lançou “La Fanfarlo”, seu único romance, que é na realidade uma novela autobiográfica. Passou dez anos publicando poemas em jornais e revistas até que, em 1857, publicou o famoso e controverso “As Flores do Mal” (Les Fleurs du Mal). Esta obra rendeu-lhe um processo pelo tribunal correcional do Sena, uma multa por atentar à moral e aos bons costumes, além de ser obrigado a retirar seis poemas (poesies damnées) do volume original, sendo publicado na íntegra apenas em edições póstumas, em 1911. Todos os demais envolvidos com o livro foram processados por obscenidade e blasfêmia.
Tanto As Flores do Mal como Pequenos Poemas em Prosa (Petits Poèmes en Prose, que depois seria intitulado Lê Spleen de Paris) foram publicados em fascículos ou em partes em diversas revistas desde 1861, e são considerados importantes por introduzir novos elementos na linguagem poética, abordando reflexões existenciais, fundindo os opostos como o sublime e o grotesco, e explorando as analogias ocultas do universo.
De 1852 a 1865, Baudelaire traduziu os textos do poeta e contista norte-americano Edgar Allan Poe, de quem se tornou um defensor entusiasmado e grande leitor já no final da década de 1840. Também escreveu ensaios sobre literatura e crítica de arte. Ele foi alvo da hostilidade da imprensa, que o julgava libertino, promíscuo, obsceno e um subproduto degenerado do romantismo. Porém, sua carreira foi admirada e elogiada por Vitor Hugo, Gustave Flaubert, Arthur Rimbaud e Paul Verlaine.
Considerado um dos maiores poetas franceses de todos os tempos, seus poemas são densos, profundos, melancólicos, críticos, confessionais, ácidos, duros e até cruéis. Alguns o consideram um antecessor do parnasianismo, ou um romântico exacerbado. Pioneiro da linguagem moderna, impôs à realidade uma submissão lírica. Seu talento e genialidade só foram devidamente reconhecidos após sua morte.
Aos 46 anos de idade, Baudelaire morreu nos braços de sua mãe, após uma vida desregrada e repleta de tribulações. Alguns dizem que ele morreu de uma doença nervosa. Sífilis? Vício em haxixe? Bebedeiras? O que se sabe é que o autor influenciou direta ou indiretamente a poesia moderna e tornou-se um ícone da literatura.

Um trecho do poema *Spleen XV, meu favorito, para você conhecer um pouquinho ou para se deleitar, caso já conheça.


Sou como o pobre rei de algum país chuvoso,
Rico, mas incapaz, moço, e no entanto idoso.
Que as lisonjas dos preceptores desprezando,
Vai com seus animais, com seus cães se enfadando.
Nada o pode alegrar, nem caça, nem falcão,
Nem o povo morrendo em frente do balcão.
Do jogral favorito a grotesca balada
Não mais lhe desenruga a fronte acabrunhada

* Em francês, o termo spleen representa o estado de tristeza pensativa ou melancolia.
 

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